São
seis e quarenta e quatro da manhã de um domingo. A janela está aberta, ouço os
pássaros cantando lá fora. Eu deveria estar dormindo, mas nesses últimos dias a
minha rotina se passa em ou oito ou oitenta. Eu durmo, ou não durmo nada. Eu me
encho, ou meu estômago ronca por dias. Eu amo, ou eu odeio.
Tenho
pensado bastante em você nesses últimos dias, em todos os sentimentos que me preenchem
quando o seu nome, seu rosto me vem à mente. Sinto raiva, rancor. Tristeza até.
Em um dia de abril do ano passado, te vi como a pessoa que esticou a mão e me tirou
do abismo.
Hoje
você é que me empurra e observa meu corpo quebrar nas pedras.
Eu
não gosto mais de você, queria falar isso na sua cara. Jogar todas as verdades
que me fazem engasgar e clamar por ar; sou covarde, guardo tudo aqui dentro e
me mordo até não sobrar mais nada de mim para seguir em frente. Eu não gosto
mais de você. Não há mais tanto assim de mim para seguir em frente.
Sei
que você já se decepcionou com alguém na vida, quem de nós não passou por
momentos assim? Mas você já se decepcionou consigo mesma? Talvez por algo que
tenha feito, ou deixado de fazer. Nesse domingo às sete da manhã, minha maior
decepção sou eu.
Queria
juntar a coragem e encher o peito, falar o que me entala a garganta, talvez se
eu juntar as palavras e formas frases, a vontade de pular vá embora, mas sei
que as coisas não funcionam assim. Ela não vai embora, você não vai embora, eu
vou. Você me colocou nessa posição; você me empurra, ou eu pulo. Não sei qual é
o pior. Eu queria escrever sobre como eu supero, como ergo a cabeça e enfrento
a vida, pronta para o que vier, mas escrevo sobre criar coragem para por um fim
nisso, por um fim em você, por um fim em mim.
Hoje
é domingo, são sete e dez da manhã, ponho um fim em você ao colocar um fim em
mim. Consigo até ouvir as pedras sussurrando meu nome.
Eu
pulo.