Essa é a minha carta de despedida

sábado, 20 de novembro de 2021

Já tem tempo da última vez que pensei em você, ainda mais da última vez que meus olhos pousaram nos seus. Quando nossos caminhos se separam, o sentimento que me dominou foi o ódio. Então a raiva. O rancor. A aceitação. O alívio.

Por tantos anos eu me dediquei a você na esperança que alguma migalha sua viesse para meu estômago vazio. Pequenas misérias que caíram em meu colo não foram o bastante para aplicar a fome que me consumiu por tanto tempo. O sentimento que continuava a crescer com a fome que nunca foi aplacada. Você sempre soube que um dia o monstro seria eu. Você planejou desde o princípio.

O seu plano foi perfeito, não é? Eu fui trocada num piscar de olhos porque todos nós somos substituíveis de uma forma ou de outra. O sistema que nos engloba fez questão de que para cada um de nós que morre, mais dez nasçam. Você sempre fez o melhor que pode com o sistema que alimenta o seu monstro interior. Não há remorsos para quem sobrevive às custas dos outros.

Eu aceitei o fim, eu abracei o fim. O final faz parte de mim como você nunca fez. Há quanto tempo faz que o fim veio e eu permaneci intacta apesar de todos os obstáculos que a ruina de você insiste em abraçar todos ao seu redor e nos levar junto para o fundo dos oceanos? A sua ruina trouxe a minha, sim, mas eu sei nadar.

Eu amo o fim.

Eu abraço o fim.

Hoje às onze e quarenta e seis dessa noite de sábado em Novembro eu aceito que o seu fim trouxe o meu, eu aceito que tudo morre, aceito que nada há de durar para sempre. Sei que o caos chega para todos. Eu aceitei o meu fim.

Você aceitou o seu?


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